segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

kali yuga: a era do poder

De acordo como a cosmologia hindu, o horizonte temporal da nossa existência encontra-se dividido em quatro eras, ou, em hindu, yugas. Cada um dos quatro Yugas, como descritos pelos antigos sábios hindus, tem uma correspondência com um dos quatro poderes de Maya, a escuridão da Ilusão que afasta o homem da sua natureza divina.
Cada Yuga traz à humanidade em geral uma oportunidade para controlar e compreender um destes poderes universais.
As quatro ilusões, Avidyas, de Maya, contados da mais bruta para a mais subtil são:

  1. A forma atómica, Patra ou Anu, o mundo da bruta manifestação material, onde a Una Substância aparece como objectos inumeráveis.
  2. Espaço, Desh, onde a ideia da divisão é produzida na Indivisibilidade.
  3. Tempo, Kal, onde a mente concebe a mudança no Imutável.
  4. Vibraçao, Aum, a força universal criativa que obscurece a nossa realização do Incriavél.

A primeira era, Kṛta Yuga ou Satya Yuga, a Idade da Verdade, ou a Idade do Ouro, onde a humanidade era governada pelos Deuses, e toda a manifestação de trabalho estaria perto dos ideiais da pureza e a humanidade permitiria a que a bondade intrínseca fosse suprema e superior a todo o resto. A deusa Dharma, que simbolizava a moralidade, apoiava-se nas suas quatro pernas durante este período. Mais tarde, na Treta Yuga, em três, duas na Dvapara Yuga, e presentemente, na era imortal de Kali, suporta-se apenas numa perna.
De entre as quatro eras, a Satya Yuga é a primeira e mais significativa. O conhecimento e a meditação eram de importância especial nesta era. Todos os pilares religiosos estavam presentes na sua totalidade.
Conforme descrito na Mahabharata, um épico hindu:
(...) não existiam pobres nem ricos; não havia necessidae de trabalho, porque tudo o que o homem precisava à sua subsistência era adquirido através da sua força de vontade; a virtude mestre era o abandono de todos os desejos terrenos. A Krita Yuga era livre de doenças; não havia diminuição da capacidade ao longo dos anos; não havia ódio ou vaidade ou pensamentos maliciosos; não havia mágoa, nem medo. Tudo o que a humanidade podia atingir era benção suprema. (...)
Ou seja, durante a Satya Yuga, o homem compreende a fonte do magnetismo universal com o seu princípio dual ou polar, e a sua inteligência dirige-se para o mistério da vibração, Aum, o poder criativo que sustenta o universo. Se este último invólucro de Maya for removido, na Idade do Ouro, dos olhos do homem aperfeiçoado, ele passa para a quinta esfera. Neste estado, livre das quatro Ilusões, ele é chamado de Brahman, conhecedor do Criador. Brahma, a luz espiritual e única Substância Real no universo.
A quarta esfera, Maha Loka, é o elo de ligação entre os três Lokas inferiores, e os três Lokas espirituais acima, e é, portanto, chamada de Dasamadwar, a Porta.

A segunda era, Treta Yuga, é a Idade da Humanidade. Na Treta Yuga, o homem extende o seu conhecimento e poder aos atributos do magnestismo universal, a fonte das electricidades positivas, negativas, e neutras, e os dois pólos da atracção e repulsão criativa. O estado natural neste período é o de Bipra, ou perfeita classe humana, sucedendo em furar o terceiro véu de Maya, a ilusão do tempo, que é a mudança.
O presente estado de desenvolvimento da inteligência humana nesta, a nossa Era Dwapara, não é suficiente para nos permitir sequer minimamente compreender os problemas da terceira esfera da Natureza (Siva ou Swa Loka), que serão conhecidos e mestrados pelos homens de Treta Yuga, cuja próxima aparição está marcada para começar em 4098DC. Esta terceira esfera, o magnetismo universal, caracterizado pela ausência de matéria, bruta ou fina, é chamada de Maha Shunya, o Grande Vácuo.
Na Treta Yuga, a inteligência do homem, tendo penetrado os segredos das mais refinadas forças materiais da Natureza, ou Bhuba Loka, na precedente Idade de Dwapara, agora procura a solução dos mistérios de Swa Loka, a fonte e origem de todsa as energias materiais, brutas e subtis, de tal forma conseguindo compreender a verdadeira natureza do universo. Neste estado, a inteligência humana é suficientemente pura para vislumbrar os princípios de Chittwa, terceira porção da criação e o trono do Creador.
Chittwa, o trono, tem sete atributos - 5 tipos de electricidades, Panch-Tatwa. as 5 Causas-Raíz / Base da criação, e dois pólos magnéticos, um de atracção, Buddhi, a inteligência que determina o que é a Verdade, e um de repulsão, Manas, a Mente, que produz o mundo ideal para o prazer. Estes sete atributos aparecem aos olhos do espírito como 7 cores diferentes.
O trono do magnetismo universal, Chittwa, e os seus 7 atributos, tem sido comparado na Bíblia ao caixão selado do conhecimento, que nenhum homem sob a Maya, mesmo no Satya Yuga (Paraíso) poderia plenamente compreender.

Na Dvapara Yuga existem apenas dois pilares religiosos: penitência e compaixão, tendo-se deixado para trás a verdade e o sacrifício. As pessoas na Dvapara Yuga são invejosas, valentes, corajosas e competitivas por natureza. Procuram os prazeres da vida. Nesta era, o intelecto divino deixa de existir e a verdade desaparece quase por completo. Como resultado desta vida fraudulenta, as pessoas são assoladas por pragas, doenças, e todo o tipo de desejos. Após isto reconhecem as suas más acções e fazerem penitência.
Na Dvapara Yuga, o homem adquire uma compreensão dos atributos electricos, as forças mais finas e subtis da criação. Ele diz-se então pertencer ao Dwija, ou classe de duplo nascimento, já agora, a sua mente se encontra dividida entre o material e o espiritual. Compreende ambos, mas não os conecta. A sua inteligência já não lhe permite estabelecer o elo entre as duas partes, apenas vê-las.

A Kali Yuga, a Idade do Demónio (Kali) ou Idade do Vício. No Kali Yuga, o conhecimento e o poder do homem está completamente confinado ao mundo da matéria bruta (Bhu Loka, a primeira esfera) e este estado ou classe natural é Sudra, um estado de dependência da natureza. Durante este Yuga, a sua mente está centrada nos problemas da objectividade materia, a Avidya ou forma atómica.
Profecias clarificam as características do Kali Yuga, que terá iniciado à cerca de 5000 anos:
  • A avareza e a ira serão comuns. Os seres humanos demonstrarão abertamente hostilidade em relação uns aos outros. A ignorância do Dharma ocorrerá.
  • As pessoas terão pensamentos homicidas sem justificação e não verão qualquer mal nisso.
  • A luxúria será vista como socialmente aceitável e a satisfação sexual como um dos requerimentos centrais da vida.
  • O pecado aumentará exponencialmente, fazendo com que a virtude se desvaneça e deixe de florir.
  • As pessoas farão votos e quebrá-los-ão pouco depois.
  • As pessoas viciar-se-ão em bebidas e substâncias intoxicantes.
  • Os gurus não serão mais respeitados e os seus estudantes tentarão prejudicá-los. Os seus ensinamentos serão insultados e os seguidores de Kama controlarão a mente dos seres humanos.
  • Os Brahmans não serão apreendidos ou honrados. Os Kshatriyas não serão bravos.
  • No entanto, em todos os campos dos estudos da relatividade, o demónio está nos detalhes. Brahmans respeitados e apreendidos não saberão nada e exporão falsa honra. Os mais honrados Kshatriyas não serão bravos.
Fazendo um paralelo com as quatro estações, a idade de Kali corresponde ao inverno, estação onde a escassez exterior e a hostilidade ambiental conspiram para que busquemos as reservas interiores e o aconchego do fogo(agni)em nossa morada espiritual (ashran). A decepção com o mundano, os excessos esgotados e as inversões de valores congelam o amor e a sabedoria. Todavia, tão logo o Sol da Satya Yuga (IDADE DA VERDADE) avança e a precessão dos equinócios confirma a Lei de ciclos, o degelo ocorre e a vida volta para o exterior.

A Kali Yuga não terá ainda atingido o seu climax, mas para ele caminha. A alma está cada vez mais abafada pela realidade material e a espiritualidade generalizada é fraudulenta. O poder domina o mundo e é o ponto de chegada de quem busca o sucesso. O sucesso, que em tempos se traduzia em bondade, verdade, compreensão e transcendência é hoje medido pelo poder. Não nos importamos com o que fazemos desde que nos leve a algum lado, no como as nossas acções vão influenciar os outros ou o mundo, desde que cheguemos ao nosso objectivo, mesmo que, o nosso objectivo, na realidade suprema seja apenas uma migalha, para chegar à qual destruimos a essência do mundo e o bolo em si.