quarta-feira, 20 de julho de 2022

SOBRE AMORES PLATÓNICOS

Talvez escrever se afigure como melhor que desenhar porque leva mais tempo e como tal diminui de certa forma o tempo dentro destas hirsutas paredes. Branco coberto de branco, com as portas mal caiadas de branco. E sabes tu onde estou e não intervirás - já tão característico teu. Mas agirás quando eu estiver ao teu alcance? Uma parte de mim sabe, com quase toda a certeza, que não levarei nada de ti salvo as tuas raras aparições. Onde nunca te olho para que não nos toquemos. "What could you see? What could you find? If we meet please advert your eyes. What I'll never show, what you'll never find, it's explosive, so hide your eyes" Se eu te tocasse por um segundo não saberia largar. Só depois de te abraçar e beijar. Mind the gap and mind the place. "Every single day, I find it hard to say, I could be yours alone, You will see someday, that all along the way I was yours to hold." O que vou eu fazer com todas estas visões de ti? Estou cansada de que sejam visões. E não sei se te espere ou se te dê como perdido. Vem a mim de uma vez ou faz que vens e deixa-te ficar. Não aguento mais estes ímpetos de 'hide and seek' tão nossos, tão característicos, tão levados ao nada do que somos realmente um para o outro. E no expoente poente do nada te vais pondo à vista quando o sol cai e quando brilha já estás longe na tua vida de dossel. Mas se realmente é tudo o que queres deixa me as visões apenas na memória para que eu possa procurar quem me dê o seu toque em vez de fragmentos de uma imagem rebatida nas luzes da noite. I tried to read another book but all I want to read is you: "You're black lace around my wrists, Pressing tightly, still not letting go. If I pull back... Will you come? Or sever the ropes?" Que solução haverá mais para mim, se a única que envisiono és tu? E digo sempre que a solução és tu. Mas não me refiro a ninguém em específico. Uma mera idealização na minha cabeça que pode nem corresponder de todo à realidade que aparentas para mim. E o pouco que sabes... Ando sempre cheia de problemas e quando não ando invento-os, para permanecer um pouco mais só. E dizer que a culpa é tua, que não me procuras, não me encontras, quando me escondo e me construo e desconstruo e fujo sempre um bocadinho mais, para que quem me encontre seja apenas quem cujo desejo por mim equivale ao meu por ele. E se não acontecer vou-me deixandi estar, vou-me deixando viver e respirar com calma até que uma outra ilustração me tire o fôlego. E aí... Começo a tomar fôlego para fugir novamente dançando. Até encontrar a minha felicidade nas minhas condições e elas sejam as mesmas da felicidade de outrém nestes jogos de labirinto onde em vez de fantasmas vamos encontrando potenciais memórias e no fim, se sela o jogo com um beijo. Perco-me de insónias por ti. E nos sonhos trocamos labirintos e cenas de amor que se escorrem por entre os nossos dedos ao acordar. Tão bom que era que fosse para nunca mais acordar. Tornam-se pesadelos quando não vens. Quando não sinto o teu toque no cair do sonho, ou o teu beijo. Porque estamos juntos não estando e ser que é só para mim, mas podia ser para os dois. De acordo com o meu leitor de cabeceira, um cúmulo de romance estas páginas tratam. Mas um cúmulo nada mais é que um acumular de experiências e estes versos narrados são a dissolução das minhas sob o véu nacarado da neutralidade da experiência de amor que procuro preservar e que só se encontra realmente sob uma interpretação platónica ou fraternal. Idoneando as paixões ao que são e integrando-as ou não na experiência, não passam de sonhos, fantasias vividas ou não, e não se encontram na verdadeira essência do amor. De facto, em essência, não são todos os amores imaginados? As paixões fluem de uma ideia instantânea que criamos sobre o outro e desenvolvem-se, e à medida que racha a ideia que criàramos e dá lugar ao verdadeiro eu do outro, a maior parte delas transformam-se em términos laçados por raiva e conflito de meras paixões ilusórias que nunca chegaram a ser relações. Não é então melhor um amor imaginado que se possa ou não concretizar numa paixão que o oposto? Pelo menos vai-se sonhando sem magoar ninguém, e vão-se mudando os sonhos e os objetos de afeição e sentindo uma felicidade sem toque até que uma potencial paixão apareça derivada do sonho. E o que dizer sobre ti? Tu, que nem às paredes confesso. Só posso dizer que tomares-me no teu abraço e beijares-me seria uma onda de calor inédita. Seria bom que estivéssemos junto ao mar para que nos pudéssemos afogar um no outro.